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domingo, 24 de novembro de 2019

Porque não voltar

É engraçado como relacionamentos doentios são tão tóxicos e viciantes quanto as drogas. Por mais que a lógica saiba tudo o que te faz mal e porque você deve se livrar disso, parece que as áreas que controlam a razão e a vontade vivem em constante batalha, e esta luta está empatada.

Quando a verdade se mostra e você toma uma decisão, existem questionamentos que remoem nossas emoções e as longas horas do dia: por que comigo? Por que entrou na minha vida? Eu fui importante em algum momento, ou fui só um troféu pra preencher algumas horas vazias? Alguma parte dessa história toda foi verdadeira um dia?

Fora outras coisas que você percebe em relação ao outro - no meu caso, um sociopata egoísta, vaidoso e canalha, que não só tem seus valores morais distorcidos e pensa que seus atos são corretos e naturalmente aceitáveis, como é moleque a ponto de sempre se vangloriar das suas conquistas. Uma pessoa que não precisa de nenhuma razão ou critério para trair: não precisa beleza, não importa a idade, o estado civil ou qualquer outra coisa. É simplesmente mais um buraco onde marcar sua presença. Mais ainda: a deslavada covardia de sequer admitir o que faz, quando é surpreendido inquestionavelmente. É seu modus operandi de sair como inocente e inverter os pedidos de desculpa. É descobrir que se ama alguém que nunca existiu. 

Infelizmente, se eu negar que meu choro diminuiu quando vi que de alguma forma, por um breve minuto, está pensando em mim e procurando saber a meu respeito, estarei mentindo. Sentir que de alguma forma eu fiz falta dá uma certa ponta de conforto. Mas olhando de fora, não consigo encontrar RAZÕES para voltar, embora minha vontade fosse estar junto, mas sabendo também que isso me custaria a paz.

Muitas pessoas me chamaram de corajosa. Na verdade, quando pedi para enxergar o que eu precisava ver e que, como resposta, me foi mostrado, foi só a confirmação de que eu precisava para tomar uma atitude (que inclusive já deveria ter sido tomada muito lá atrás). E doeu. A angústia do que iria ocorrer me torturou muito mais do que a confirmação - quando a gente já sabe, a confissão é mera formalidade. A tristeza e a dor que me acometeram entre aquela madrugada de segunda e a manhã de quarta-feira sugaram todos os sorrisos que eu ainda poderia ter naqueles dias. A falta de respeito à qualquer história, qualquer sentimento, somados a tudo que já não vinha bem e, principalmente, associados a um sentimento com o qual eu sempre tive dificuldade de lidar ao longo da vida: me sentir burra.

Tantas coisas pioraram nos últimos meses que nem sei por onde começar. Muitas que eu cansei de repetir e tentar consertar - em vão, porque para ele pouco importava o que eu dizia. O sexo já havia esfriado há muito tempo, mas não para mim. A falta de beijos, de carinho, de uma mão nos ombros ao chegar nos lugares até o extremo de, dias antes do fato, me perceber sempre andando atrás dele nas calçadas. Eu me via a esposa no sentido mais deprimente de um casamento: uma relação baseada num simples rótulo de casal, cujo tratamento era pior do que de amizade. Eu era só a fachada, o status, uma companhia pra jogar baralho e resolver problemas. Eu queria e precisava de muito mais - eu já tinha tido muito mais, até dele próprio. 

Me doeu demais a parte de dinheiro, sim. Não pela grana em si, mas por perceber que muitas vezes eu paguei comida, mercado, contas de onde íamos pra tentar ajudar, enquanto por trás ele guardava o dinheiro pra ir a puteiros e motéis.

E aí, diante de toda essa massaroca de sentimentos e constatações, eu procuro me agarrar em todas as coisas ruins que, há muito tempo, já faziam com que eu me perguntasse várias vezes por dia por que eu continuava ali, me machucando e sofrendo, se não estava feliz. E eu sabia a resposta, mas queria que um dia meu amor-próprio tivesse coragem de falar mais alto.

Já não tinha mais beijo, abraço, carinho. 48h grudados e sequer um beijo de boa noite. Uma bebida a mais e discursos machistas em público, nas clássicas frases "merda por merda, fica com a que você já conhece o cheiro" e "não tem que trocar, quer comer alguém, vai no puteiro, paga e depois volta pra casa". Contando suas "façanhas" nas minhas costas. Nos últimos tempos, grosso. Me ofendendo. Criticando minha rotina, meus problemas, a música que eu gosto, a estampa das roupas e as saias que nunca uso. É ver que a pessoa que chegava a passar dez dias seguidos dormindo com você, passou a ir só depois de muita insistência e saindo cedo porque "tinha muitas coisas pra fazer em casa" - e agora, emergem questionamentos sobre estas tantas coisas que já se viu que eram códigos de encontros. É perceber que se está desperdiçando tempo em uma relação onde os dois têm expectativas completamente diferentes - enquanto um pensa em casar e compartilhar um "pro resto da vida", o outro foge exatamente disso e só quer um estepe, alguém pra chamar de oficial. 

Mas principalmente, o DESESPERO. O medo assombroso e constante da traição porque, não muito no fundo, eu sempre soube que se não havia acontecido, aconteceria. Tentativas inúteis de manter o controle, de saber onde está e com quem. É viajar e não sair pra balada com medo de magoar o outro, enquanto o outro comemora sua viagem para fazer suas façanhas sem medo. É mentir onde se está com medo de que o outro se valha da sua indisponibilidade para te desrespeitar mais uma vez - como se só o fato de pensar nisso já não fosse uma completa falta de respeito. É enlouquecer com celular desligado, celular esquecido, ligações não-atendidas e desculpas esfarrapadas. É não querer que encontre amigos, que vá a churrascos, porque sabe que vai ser uma completa ofensa à sua pessoa, acompanhada de gargalhadas bravateadoras - e ter sempre a sensação de que o grupo de canalhas se inflama e, juntos, dão corpo às suas histórias. É ver que os contatinhos nunca são excluídos - no máximo, estão em latência no fundo de uma gaveta rasa e sem chave. É ser manipulada sobre coisas tão óbvias, ter seus próprios problemas usados como armas contra si mesma e o pior: acreditar nisso. É ouvir as mentiras ditas aos outros sobre você e não ter sequer como contar a sua versão porque o seu pecado, embora plausível, não é bonito.

Desta vez, estou tentando agir diferente. Obrigo-me a levantar da cama e seguir com a minha rotina, por mais que em alguns momentos seja muito difícil. É sair com amigos, ir ao cinema sozinha, ir ao cinema com amiga. É ir pra praia tomar umas caipirinhas e dormir num leve porre. É sair pra caminhar de óculos escuros pra chorar. É sentir saudade mas ao mesmo tempo, sentir que hoje sua tristeza ainda é grande, mas que seu coração está em paz.

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